O que ninguém te conta sobre empreendedorismo

Está na moda romantizar o empreendedorismo. Empreender é a autoajuda do século XXI. Você tem que empreender para ser feliz, para ser rico, para ter qualidade de vida. Só depois de empreender é que você saberá o que é realização pessoal, fazer trabalho voluntário vai parecer mais nobre e você será convidado para falar sobre todos os aspectos da vida social, afinal, você é um empreendedor e entende de tudo. Só que na verdade você se torna um freelancer sem um contrato, sem garantia, sem salário e com as mesmas preocupações de um dono de uma empresa à beira da falência – menos o fato que você voltará para sua casa confortável no final do dia.

Sete anos atrás, Joe Jones (nome fictício de um entrevistado da The Economist) deixou seu emprego em uma grande companhia listada na bolsa de valores para abrir um negócio próprio – se tornar um . Ele estava cansado da vida corporativa e queria testar seus limites. Mas o tal do empreendedorismo provou ser muito mais difícil do que ele imaginara: uma sucessão de buracos, quebra-molas e becos sem saída em vez de um caminho claro para a riqueza. Ele descobriu que tinha perdido controle: todas as coisas que seu antigo trabalho havia fornecido para ele, de apoio administrativo a uma rede de contatos. Ele precisou aprender a fazer todos os tipos de coisas que não havia pensado que necessitaria. A responsabilidade de cumprir com a folha de pagamento era demais. A preocupação com todos os detalhes de sua vida – ele poderia manter seu carro ou pagar a hipoteca em sua casa? – pesava em sua cabeça. Ele começou a beber. Joe eventualmente juntou-se ao Alcoólicos Anônimos e transformou seu negócio em um sucesso. Mas muitos outros empreendedores não tiveram a mesma sorte.

O lado que ninguém vê do empreendedorismo.

Alexandre Amorim, co-fundador da Asid Brasil, ONG que trabalha com consultoria de gestão para entidades filantrópicas, diz que passou 9 meses até receber seu primeiro salário. Já a Rose Hatamoto, da Taste, uma agência de design de Curitiba, fala sobre o quanto ela não estava preparada para a pressão psicológica que foi demitir quase 15 funcionários durante uma recessão em seu negócio. Já a Lívia Kohiyama, co-fundadora da Escola de Criatividade, reforça o quanto as coisas vão dar errado, não importa o quanto você planeje.

Empreendedorismo no Brasil em números.

Mais da metade das empresas fundadas no Brasil fechou as portas após quatro anos de atividade, segundo a pesquisa divulgada em 2015 e realizada em 2013 pelo IBGE. Das 694 mil empresas que nasceram em 2009, apenas 47,5% ainda estavam em funcionamento em 2013. Após o primeiro ano de funcionamento, 158 mil fecharam as portas, segundo a pesquisa.

As empresas que têm mais funcionários tendem a ter uma taxa mais alta de sobrevivência. A sobrevivência das empresas sem pessoal ocupado fundadas em 2009 era de apenas 40,9% em 2013. Esse percentual subiu para 76,7% entre as empresas com 10 ou mais pessoas assalariadas.

Tal montanha-russa impõe uma pressão emocional até mesmo nas pessoas mais equilibradas. Mas parece que o empreendedor médio está longe de ser equilibrado. John Gartner, que ensina psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins, sugere que um número desproporcional de empresários pode sofrer de hipomania, um estado psicológico caracterizado por energia e autoconfiança, mas também inquietação e risco. Numerosos estudos confirmam que, no mínimo, eles são propensos a excessos de otimismo. Guy Kawasaki, um famoso investidor de risco, diz que quando um empreendedor promete fazer 50 milhões em quatro anos, ele adiciona um ano ao prazo de entrega e divide a receita por dez. Investidores de risco costumam usar testes de personalidade para conseguir distinguir entre fundadores meramente otimistas e completamente delirantes.

O que pode ser feito para lidar com o lado negro do empreendedorismo?

Vishen Lakhiani, CEO da Mindvalley, cita em seu livro “O código da mente extraordinária” (em tradução livre), a “rerda”: regra de merda, ou Brule bullshit rule, em Inglês. Que são aquelas pequenas coisas que repetimos porque simples sempre foram assim ou porque vemos outros fazendo. Por isso é importante refletirmos sobre a nossa vontade de empreender. Será que não estamos depositando neste ato toda a carga de salvar nossas vidas, um deus empreendedor ex machina?
Fundadores de empresa precisam entender de forma mais realista como é falhar. A literatura de negócios está cheia de teses sobre como os empreendedores devem adotar ler e ouvir sobre fracasso como uma “experiência de aprendizado”. Mas levar um soco no rosto de verdade é a verdadeira experiência de aprendizagem.

É fácil invejar as pessoas se você se concentrar em um punhado de histórias de sucesso. Futuros empreendedores precisam ter uma visão mais clara dos riscos envolvidos antes de iniciarem um negócio. Mas a sociedade também precisa ter mais respeito pelas pessoas que colocam suas vidas em jogo para construir um negócio do nada.

Nós, da Aldeia, ensinamos e educamos empreendedores de áreas técnicas a entenderem mais de gestão. Juntos, somos uma rede de mais de 150 empreendedores, que participamos de eventos para comentar a nossa jornada de empreender enquanto ela está acontecendo. Sem fantasias ou superstições.

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