Multipotencialidade: o que é, como identificar e como lidar

Pessoas com multipotencialidade: você provavelmente convive, já conviveu ou até mesmo se identifica como alguém que está sempre envolvido com dezenas de atividades diferentes. Aquela que, volta e meia, mergulha de cabeça em um novo projeto e, às vezes, acaba nem terminando a proposta. Curiosamente, parece gostar de tudo e se dar bem com uma infinidade de áreas completamente distintas.

Essa pessoa é como um canivete suíço: possui diversas habilidades e funções. De vez em quando saca uma, outras vezes aproveita várias ao mesmo tempo.

Mas o que significa multipotencialidade?

O multipotencialista, multipotencial ou polímata é aquela pessoa cuja lista de afinidades (como profissões, hobbies e projetos) parece não acabar nunca. Essa característica permite explorar diferentes conhecimentos, se interessar rapidamente por coisas novas, se adaptar a qualquer tipo de grupo e conseguir aplicar mais de uma habilidade em seu dia a dia.

Mas engana-se quem pensa que esse traço traz apenas benefícios. A multipotencialidade pode fazer a pessoa se entediar rapidamente, ter muitas coisas para fazer mas não conseguir desenvolvê-las até o final e sentir dificuldade em assumir compromissos a longo prazo.

E, devido à estrutura de subsistência da sociedade em que vivemos, muitas vezes essas pessoas podem se sentir desajustadas. Isso acontece porque, desde a revolução industrial, a demanda por profissionais especializados em determinadas áreas cresceu para que os produtos pudessem ser produzidos em grande escala.

Aos poucos, fomos nos adaptando às demandas do mercado até chegarmos em uma cultura da hiperespecialização. Para dificultar ainda mais a vida das pessoas com multipotencialidade, os caminhos a serem escolhidos na vida profissional são moldados, ou pelo menos indicados e questionados, desde a infância.

O maior exemplo é a clássica pergunta “O que você quer ser quando crescer?”, que ouvimos milhares de vezes desde pequenos. E o processo só se intensifica ao longo da vida, já que, na adolescência, é preciso escolher o que cursar na universidade. Também existe aquela ideia de uma vocação verdadeira, que seria o nosso destino, nos faria felizes e bem-sucedidos para sempre, e só precisaríamos descobrir qual atividade é essa durante as aulas, estágios, empregos e cursos – de preferência, o mais rápido possível.

Mas tudo não passa de balela – ao menos é nisso que acredita Emilie Wapnick, escritora, artista, coach e a principal responsável por cunhar o termo “multipotencialista”.

“Onde você aprendeu a atribuir o significado de errado ou anormal a ‘fazer muitas coisas’?” [Emilie Wapnick, multipotencialista, em uma palestra TEDx Talks].

créditos: alphaspirit/shutterstock

Nessa palestra do TED talks, Emilie conta como se sentiu sozinha por não encontrar seu espaço no cenário produtivo e que chegou a pensar que havia algo de errado com ela. Mas, depois de se descobrir e entender como sua mente funcionava, viu que três características geradas pelo multipotencial eram muito valiosas:

1. Agrupamento de ideias

Como o multipotencialista explora diversas áreas, ele possui conhecimento suficiente para estabelecer elos entres esses setores. E é justamente nessa interseção que surgem as ideias mais inovadoras possíveis.

2. Aprendizado rápido

Os multipotencialistas estão acostumados a serem principiantes em tantas coisas que já se habituam a sair da zona de conforto e não têm medo de inícios. Isso ajuda a participar mais de tudo o que fazem e aprender rapidamente em diversas situações.

3. Capacidade de adaptação

Eles podem ser o que precisarem. Sempre vão “se virar” e dar um jeito de encontrar alguma maneira de ganhar dinheiro, por exemplo. E com as mudanças tecnológicas acontecendo cada vez mais rápido e inserindo novas profissões no mundo, essa é uma característica extremamente valiosa para se ter. Para exemplificar: há alguns anos, um repórter era responsável apenas pelo texto de matérias e artigos. Hoje, um bom profissional precisa saber filmar, fotografar, editar, falar em frente à câmera e saber se desenvolver.

“Se eu me sinto como um canivete suíço, por que eu tenho que me comportar como uma tesoura sem ponta que só corta papel?” [Rafaela Cappai, multipotencialista, em uma palestra TEDx Talks].

Essa cultura de que precisamos ser especialistas não existiu desde sempre. No período da renascença, por exemplo, ter múltiplas ocupações era considerado algo bom. O próprio Leonardo da Vinci fazia parte desse grupo: ele foi músico, pintor, escritor, escultor, inventor, engenheiro, matemático – sim, a lista de qualificações parece não ter fim. “Homem da renascença”, aliás, é outro termo utilizado para determinar os multipotencialistas.

O que fazer para estimular a multipotencialidade?

Independentemente do termo utilizado para denominá-los, os próprios multipotencialistas sabem: seu principal desafio é a organização. Com muito foco nesse aspecto, grande parte dos problemas enfrentados por essas pessoas podem ser resolvidos.

E, para começar essa reeducação da ordem da vida, é importante utilizar algumas táticas simples:

  • Crie listas de objetivos

Seja a longo prazo, seja de metas para o dia. As listas ajudam você a ter noção de todas as tarefas que precisa ou quer desenvolver, definir prioridades e não se perder entre as atividades.

  • Fatie

Se você é um multipotencialista e está com a sensação de nunca ter conseguido terminar nenhum projeto na vida, que tal começar a traçar objetivos simples e executá-los em partes? A partir do momento que você conseguir dividir e executar pequenas coisas em início, meio e fim, vai se sentir capaz de concluir projetos cada vez maiores. A dica é do multipotencialista Haroldo Rocha, que trabalha com marketing digital, SEO, growth hacking, produz cervejas artesanais e percebeu que isso funcionava por experiência própria.

Lembre-se: você não está sozinho!

Encontrar outros multipotencialistas para trocar experiências é mais uma atitude que pode ajudar na compreensão de si mesmo. Para que essas pessoas se ajudem, já existem alguns canais de contato aqui no Brasil: a Renata Lapa, por exemplo, é coach, escritora, internacionalista e criou uma comunidade do grupo no Facebook.

Já a Rafaela Cappai, bailarina, atriz, comunicadora e empreendedora, inaugurou a Espaçonave, uma empresa que incentiva as pessoas a ganhar dinheiro com aquilo que as faz felizes. Além de apoiar e inspirar, a organização defende que a multipotencialidade existe em todas as pessoas.

Existe, também, um o site Multipotenciais voltado apenas a quem possui essas características, com depoimentos, dicas e até mesmo encontros proporcionados por multipotenciais de todo o país.

“Não precisamos nos prender a uma única ocupação pela vida inteira”.

Tudo isso existe para que os multipotencialistas (e até mesmos os especialistas), entendam que pessoas que trabalham como canivetes suíços podem (e devem!) ter seu espaço na sociedade. O importante é sempre ter em mente que, por mais que pareça um pouco confuso, não precisamos nos prender a uma única ocupação pela vida inteira.

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