Simon Sinek | Aldeia | Movimento de Realizadores

Sobre poder, (des)poder e como usá-lo sem ser um panaca

No dicionário, poder é o domínio exercido sobre algo. Para os místicos, poder é a influência das forças energéticas. Podemos falar sobre este tema sob diversas perspectivas. Mas e o poder dentro do universo do empreendedorismo, da realização? Aquele poder de ter em mente uma necessidade das pessoas e sintonizá-las com os propósitos de uma empresa?

Para começar, quem é que não gostaria de ter poder? Se pararmos para pensar, nossa vida é quase completamente norteada em busca de poder. Não acredita? No colégio, adolescentes fazem de tudo para ser parte do grupo e, ainda, ter poder; numa empresa, profissionais puxam o tapete dos colegas para conquistar o poder; no trânsito, quem tem o melhor e mais robusto carro pensa que tem poder. Exemplos não faltam.

Inevitavelmente, quando pensamos em poder, relacionamos com algo totalmente ruim e destrutivo. De fato, o mito sobre exercer o poder e essa relação negativa acontece em função dos seres tiranos, que abusam e subutilizam o poder. Felizmente, um movimento contrário vem ganhando força: o empoderamento.

Poder versus empoderamento?

“Quem tem poder acredita na capacidade de decidir sobre a vida do outro e, ainda, obriga ou impede”.

O poder aparece como um aspecto inerente a todas as relações, sejam elas econômicas, sociais ou pessoais. Ele ignora a coletividade e, normalmente, quando praticado em níveis distintos, apresenta conflitos de interesses. Para a antropóloga e pesquisadora mexicana Marcela Lagarde, quem tem poder acredita na capacidade de decidir sobre a vida do outro e, ainda, obriga ou impede. Ela também aponta que “quem exerce o poder se arroga o direito ao castigo e a postergar bens materiais e simbólicos. Dessa posição domina, julga, sentencia e perdoa. Ao fazê-lo, acumula e reproduz o poder”.

Na contramão, o empoderamento aparece como um conceito positivo quando se fala em poder. Ele é o mecanismo pelo qual pessoas e grupos minoritários retomam o controle da própria vida e passam a ter consciência das próprias habilidades para tomar decisões e compartilhar responsabilidades.

O (des)poder nas empresas

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Estamos vivendo uma forma antiquada de fazer negócios. As pessoas não são tratadas como deveriam e a típica política que impera na maioria das empresas é de centralização do poder e da prática do “goela abaixo”, como aquele exemplo clássico que diferencia o chefe do líder: manda quem pode e obedece quem tem juízo.

“Demora um tempo para as pessoas caírem na realidade de que a gente pode continuar eficiente, competitivo, arrojado, produtivo, mas com sentido no que faz. Fazendo porque quer e não porque alguém mandou”.

Pelo bem geral da nação, em contrapartida, existem pessoas que naturalmente ensinam outras pessoas a conquistar o poder. É o caso do líder mais admirado do Brasil pela revista Você S/A em 2014, Márcio Fernandes. Ele identificou na empresa em que trabalhava, como o (des)poder estava influenciando os maus resultados. “Você não precisa controlar tudo, mas precisa confiar em todos. É difícil? Sim. Porque no começo, você será traído porque as pessoas vivem uma competitividade acirrada. Demora um tempo para as pessoas caírem na realidade de que a gente pode continuar eficiente, competitivo, arrojado, produtivo, mas com sentido no que faz. Fazendo porque quer e não porque alguém mandou”.

E quando perdemos o nosso poder?

Sendo um empreendedor, quando você é o “dono” de uma empresa, em linhas gerais, é a pessoa que detém o poder lá dentro. Mas quando ela começa a crescer, naturalmente você passa a delegar atividades, decisões e, inclusive, seu poder. O primeiro sentimento é de que você está perdendo o controle e, de fato, se você não souber administrar a situação, a coisa pode ficar feia. E quando isso acontece?

Vou citar o exemplo de um empreendedor (pequeno, vocês nem devem conhecer) que, de repente, se viu sem o poder da própria empresa, mas que deu a volta por cima com classe: Steve Jobs. Dez anos depois de ter fundado a Apple com o amigo Steve Wozniak na garagem da casa dos seus pais, Jobs foi demitido da própria empresa por conta de disputas de poder. Enquanto esteve fora da Apple, comprou a Pixar, empresa de computação gráfica, e fundou a NeXT, desenvolvendo um sistema operacional que, mais tarde, foi comprado pela própria Apple. Seu sucesso fora da empresa foi tanto que, em 1997, Jobs voltou para o controle da empresa e a transformou num verdadeiro sucesso.

Como recuperá-lo?

Em alguma esfera da vida, nós temos poder. Em algum dos nossos círculos sociais, nós temos poder. Em algum momento da nossa carreira, nós temos o poder. Logo, se temos o poder, podemos também perdê-lo. E quando isso acontece? Não existe receita e, muito menos, mágica que possa surgir dessa leitura, mas trago boas reflexões para ajudá-lo a decidir sua ação. Além do exemplo de liderança de Márcio Fernandes e da história de Steve Jobs, tem outros dois conceitos interessantes para você acompanhar: um deles é o modelo conhecido como Círculo Dourado, de Simon Sinek, e o outro é o livro A Vaca Roxa, de Seth Rodin.

 

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No Círculo Dourado, Sinek mostra como as pessoas (e também as empresas, mas aqui não vem ao caso) sabem o que fazem e como fazem, mas apenas uma pequena parcela delas sabe o porquê. Justamente estas que alcançam o sucesso e detém o poder, pois estão conscientes daquilo que as move e são capazes de comunicar de forma diferente. São elas que estão no círculo dourado. Na prática, quando você realiza algo que não está alinhado com seu propósito de vida, facilmente perde o poder. Portanto:

Tenha o seu porquê bem definido.

No caso do livro A Vaca Roxa, trata-se de fazer (ser) diferente para, então, ser notado como “poderoso”. Seth conta que durante uma viagem pela Europa, ele ficou deslumbrado com a paisagem e as belas vacas pretas-e-brancas ornando com a paisagem do campo. Depois de algumas horas viajando, ele se deu conta de que mesmo lindas e perfeitas, elas eram todas iguais. Assim somos na vida! Por isso, o autor fala sobre a vaca roxa. Com certeza, ela se destacaria demais na paisagem e, melhor, nem precisaria de muito esforço para ser notada. Portanto:

Para recuperar o poder, seja notável.

Por fim, permita-se perder o poder. Não é tão ruim assim, aliás, este pode ser o gatilho para você conquistar novos poderes. Pense nisso!